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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012




CARAVAGGIO

SÍNTESE CRÍTICA DO FILME DE DEREK JARMAN

Michelangelo Merisi da Caravaggio é sem dúvida um dos génios da pintura universal.
Nasceu em Milão, a 29 de Setembro de 1571 e morreu em Porto Ercole, a 18 de Julho
de 1610.

A sua vida está rodeada de inúmeras histórias relacionadas com o vício e o crime. Existe mesmo uma nota precocemente publicada sobre ele, em 1601, por Floris Claes van Dijk, em Roma, que descrevia o estilo de vida libertina de Caravaggio:
"após uma quinzena de trabalho, ele irá vaguear durante um mês ou dois, com uma
espada à cintura e um servo seguindo-o, de um salão de baile para outro, sempre
pronto para se envolver em alguma luta ou discussão, de tal maneira que é bastante
torpe acompanhá-lo".
Em 1606 matou um jovem durante uma briga e foge de Roma, procurado pela polícia e
com a cabeça a prémio por vários inimigos. Passou por Nápoles, Malta e Sicília,
envolvendo-se sempre sucessivamente em brigas que, em conjunto com a sua vida
pouco regrada, contribuem para a sua morte precoce aos 38 anos.
O filme de Derek Jarman descreve bem o carácter irascível deste génio da pintura,
tocando apenas de forma cirúrgica, nos aspectos técnicos e estéticos da sua obra. De
facto, Caravaggio foi um dos grandes mestres da representação pictórica do aspecto
mundano das cenas bíblicas, onde sobressai a técnica veneziana do claro-escuro, que
realça os volumes e caracteriza a Pintura Barroca Italiana do século XVII (evolução da Pintura Renascentista). Outra característica marcante na sua obra é a dimensão das suas Artigo online, publicado em Dezembro de 2010.
Autor: Paulo Teles Grilo.
obras e o impacto realista que lhes imprimia. Usava normalmente um fundo plano e
obscuro, muitas vezes totalmente negro, agrupando as figuras do primeiro plano com
focos intensos de luz sobre os detalhes, geralmente os rostos. Além disso, Caravaggio
servia-se dos seus contactos no submundo para angariar modelos mais expressivos, de
acordo com os seus objectivos estético-simbólicos. Chega mesmo a ser acusado de ter
utilizado o corpo de uma prostituta encontrada morta no rio Tibre, em Roma, como
modelo, para pintar “A Morte da Virgem”, que concluiu em 1606. É uma das suas obras
de maior esplendor, com mais de três metros e meio de altura e que pertence
actualmente à colecção permanente do Museu do Louvre, em Paris.
O filme de Derek Jarman sobre Caravaggio apresenta sobretudo o retrato da vida
mundana do homem desequilibrado por trás do genial artista e o resultado parece-me
positivo, do ponto de vista cinematográfico. Até porque o cineasta consegue separar
claramente o homem do artista, tanto quanto possa ser possível, com algumas
mensagens subliminares muito interessantes.
Este filme coloca-nos a questão importante da imoralidade que representa a tentativa de encobrimento histórico da personalidade e comportamento de alguém que possa ter tido um grande mérito e reconhecimento social em determinada área. Derek Jarman recorre mesmo à mistura de imagens com tecnologia contemporânea, para mostrar que o
problema subsiste nos nossos dias.
A minha perspectiva é a de que a técnica de Caravaggio é fantástica, mas não partilho
de muitos dos valores que nortearam a sua vida e a de alguns dos grandes mestres de
pintura. E isto aplica-se aos pintores de todas as épocas.
Interessa perceber que cada pessoa resulta daquilo que são os seus genes e a sua
personalidade, conjugados com o contexto social e cultural da época e das condições
específicas que o rodeiam. Compreende-se pois, que a tendência homossexual de muitos
pintores anteriores à contemporaneidade esteja relacionada com a herança grega, a que Artigo online, publicado em Dezembro de 2010.
Autor: Paulo Teles Grilo.
se associa a permissividade social desses desvios, ou pelos menos, a ausência de
censura, devido à ignorância generalizada da população, sobretudo em termos morais.
Hoje não existe essa desculpa, e a censurabilidade social associada aos estudos
científicos desenvolvidos desde os anos sessenta, não permite que se possa fingir
desconhecer a profundidade do desvio comportamental que está associado à prática da
homossexualidade.
Por outro lado, o filme tenta fazer perceber ao espectador comum, a angústia que vivem
todos os génios da pintura, na tentativa de perceberem a vida para além do visível, do
palpável e sobretudo, do status quo social estabelecido.
No fundo, um bom filme, para quem tiver capacidade para o analisar devidamente, nas
vertentes aqui afloradas, pois conduz-nos para a fundamental reflexão sobre a relação
entre a arte, a pintura e a sociedade, no fundo, uma reflexão sobre a importância de
determinados valores morais e a sua relação com os valores da religião e / ou da justiça.

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