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domingo, 20 de junho de 2010

NAS ENTRELINHAS DA “LOUCURA”:
Uma abordagem sociológica e estética sobre a ausência dos sentidos psíquicos.

João Leno Pereira de Maria
Licenciado em Licenciatura Plena em Letras (habilitação língua portuguesa), aluno especial do Mestrado em Letras (Área: Estudos Literários),pós-graduando na especialização Latu Sensu em ensino-aprendizagem de língua portuguesa e literaturas e acadêmico do curso de Serviço Social (UFPA).

Resumo: Esse artigo cuida de duas críticas diretamente centradas em A História da Loucura de Michel Foucault: a contestação do internamento como a única solução encontrada para lidar com a loucura e o domínio exercido pelas concepções médicas em seu tratamento. Estas problemáticas serão discutidas através das concepções históricas/discursivas defendidas por Foucault e recortadas através do viés pragmático da representatividade do louco d’A idade média até a contemporaneidade, bem como os diversos perfis dos “afetados”.

Palavras-chave: Foucault – História da Loucura – história – discurso.

Garota Interrompida (Girl Interrupted), Uma Mente Brilhante (Beautiful Mind), Em Nome de Deus (The Magdalenesisters) e Bicho de sete cabeças (nacional) foram filmes produzidos no final do século XX e no começo do século XXI, d’onde faz-se perceber uma crítica muito forte à forma como a sociedade ocidental do século XIX até meados do século XX se relacionou com os desvios e os descontroles – comumente homogeneizados e enquadrados pela expressão “LOUCURA”. Dentro dessa crítica, estabelecida de maneiras diversas por cada um dos filmes, destaco duas que os unem: a contestação do internamento como a única solução encontrada para lidar com a loucura e, ainda, o domínio exercido pelas concepções médicas em seu tratamento.
O livro A História da Loucura na Idade Clássica escrito por Michel Foucault (segunda metade do século XX), cuida, abissalmente, dessas duas críticas que destaquei anteriormente. Buscarei ainda trabalhar essas problematizações atentando para as discussões: as concepções “histórico e/ou discursivas” presentes neste estudo.
Para iniciar a discussão que contesta a relação necessária entre loucura e internamento Foucault aponta uma dada situação: no final da Idade Média (por volta do século XV), o problema da lepra “desaparece”, provocando com isso, um vazio no espaço do confinamento mas, se toda a preocupação do poder real que girava em torno do controle dos leprosários desapareceu, Foucault afirma que tal acontecimento não representa o efeito da cura exercido pelas práticas médicas, mas uma ruptura que ocorreu no modo de entender e de se relacionar com a lepra e com o confinamento, tal ruptura não faz derrocar duas noções importantes: os valores e as imagens atribuídas ao “personagem” do leproso e o sentido produzido pela exclusão desse personagem do seu grupo (social), agora dado de herança ao “louco”.
Estamos, desde já em um mundo desregrado pelo conceito humanitário do “outro”, o louco é visto pela sociedade de então como a moderna figura do “lazaro”, que deve ser exterminado do meio social não por aquilo que a sua insanidade pode ocasionar de malefícios à sociedade mas, pela sua representatividade social, ou melhor, pela ausência de representatividade, por vergonha, havia de ser confinado e condenado ao exílio interno aquele que não atendesse as regras de sanidade mental, assim como quando a lepra era doença comum, tuberculose era moléstia incurável (por isso no Brasil da primeira metade do séc.XX os hospitais responsáveis no tratamento da tuberculose eram chamados ‘singelamente’ de Sanatorinhos). Os métodos de tratamento até poucos anos eram assinalados de terapias que iam de choques elétricos à dozes mortíferas de morfina e dopativos (traja preta) que em muitos casos levavam a óbito os pacientes, dada o pouco andamento em pesquisas e investimento público nesta área da saúde, hoje (pleno séc. XXI), seguramente pode-se dizer (ainda) que a loucura é um problema social com pouca possibilidade de andamento, evolução e métodos, porém a figura do louco não é mais (tão) destorcida como a dois séculos atrás, é de nosso conhecimento lumas patologias que seriam graduações da loucura, os primeiros passos, a psicologia moderna desvendou o enigmático e confuso inconsciente a fim de livrar o ser humano de suas fragilidade que há algum tempo o levava à perambulice, a psiquiatria moderna desdobra-se para controlar de forma mais humanitária os “possessos” e aboliu de vez a ideia de que o louco nada sente, nada vê, nada representa; é um primeiro passo para que esta área da saúde cresça e dê condições de inserirem com mais dignidade aqueles que passam por distúrbio mentais, pois o isolamento, ao longo da história, só representou o mascaramento da sociedade frente as suas piores patologias, ainda que o internamento seja importante (segundo Foucault) por duas razões: primeiramente, por ele ser a estrutura mais visível da experiência clássica da loucura e, em segundo lugar, porque será exatamente ele que provocará o escândalo quando essa experiência desaparecer, no século XIX, da cultura européia, a ponto de (por exemplo), com Pinel ou Tuke, aparecer a idéia de uma libertação dos loucos do internamento produzido pelo século XVII. Na imaginária paisagem da Renascença, a Nau dos Loucos, ocupava espaço fundamental, transportava tipos sociais que embarcavam em uma grande viagem simbólica em busca de “fortuna e da revelação dos seus destinos e de suas verdades”. Esses barcos faziam parte do cotidiano dos loucos, que eram expulsos das cidades e transportados para territórios distantes. Foucault vê nessa circulação de loucos mais do que uma simples utilidade social que, supostamente, visava a segurança dos cidadãos e/ou evitava que os loucos ficassem vagando dentro da cidade. Todo esse desejo de embarcar os loucos em um navio simbolizava uma inquietude em relação à loucura no final da Idade Média, somente a partir do século XV, ela passa a “assombrar positivamente” a imaginação do homem ocidental e a exercer atração e fascínio sobre ele.

Acerca da loucura, FOUCALT diz que:

“A experiência trágica e cósmica da loucura viu-se mascarada pelos privilégios exclusivos de uma consciência crítica. É por isso que a experiência clássica, e através dela a experiência moderna da loucura, não pode ser entendida como uma figura total, que finalmente chegaria, por esse caminho, à sua verdade positiva; é uma figura fragmentária que, de modo abusivo, se apresenta como exaustiva; é um conjunto desequilibrado por tudo aquilo de que carece, isto é, por tudo aquilo que o oculta. Sob a ciência crítica da loucura e suas formas filosóficas ou científicas, morais ou médicas,uma abafada consciência trágica não deixou de ficar em vigília”.
(Foucault, 1997: 28-29)

A história, portanto, cumpre o papel de diferenciar o passado do presente e, a partir de tal constatação, criar novas possibilidades para mudar a nossa situação no presente, ou seja, não é necessária a ligação que se estabeleceu entre internamento e medicina. Fez-se necessária então, a formação de uma nova sensibilidade social para “isolar” a categoria da loucura e destiná-la ao internamento. Essa segregação da loucura relaciona-se com as seguintes questões: uma nova sensibilidade à miséria e aos deveres da assistência, uma nova forma de reagir diante dos problemas econômicos do desemprego e da ociosidade, uma nova ética do trabalho e o sonho de uma cidade onde a obrigação moral se uniria à lei civil, sob as formas autoritárias da coação. O louco era, na Idade Média, considerado uma personagem sagrada era porque, para a caridade medieval, ele participava dos obscuros poderes da miséria. A partir do século XVII, a miséria é encarada apenas em seu horizonte moral e, assim, se antes o louco era acolhido pela sociedade, agora ele será excluído, pois ele perturba a ordem do espaço social.

Alguns loucos da História Real da humanidade:

• Frederico I (1657-1713)
Foi rei da Prússia. Era muito obsessivo, e foi ele quem elaborou o Código dos Funcionários Públicos do reino, com leis rígidas de comportamento. Uma das regras, era que os funcionários deviam ser acordados às 6 da manhã, ao som de canhões.
Sua guarda imperial era formada apenas por homens acima de 1,80 m de altura.

• Nabonidus (6 a.C.)
Responsável por levar o poderoso reino da Babilônia ao fundo do poço. Vivia escondido num oásis na Arábia, enquanto seu filho administrava o reino. Cancelou o culto a Marduk, o deus mais importante da Babilônia, mandou construir um templo para si próprio. De vez em quando, pensava que era um bode, e saía andando de quatro e comendo grama.

• Vlad III (1431-1476)
Foi nele que o escritor Bram Stocker se inspirou para criar o vampiro Drácula. O rei da Valáquia, além de gostar de comer vendo seus torturados sangrarem, empalhou nobres como vingança a morte do irmão. Com o risco de invasão, mandou empalar 20 mil soldados, e os expôs pelo caminho. Seu invasor recuou de medo.

• Ivan, o Terrível (1530-1584)
Era rei da Rússia. Quando pequeno, matava cães e gatos, e os atirava nos transeuntes, do alto das muralhas do Kremlin. Com a morte da mulher, passou a matar nobres, pensando que tinha sido envenenada. Cozinhou o tesoureiro num caldeirão, espancou sua nora por achar que ela estava mal vestida e matou seu único herdeiro, matando-o a cacetadas com o cetro que carregava. O mais bizarro, era que batia a cabeça no chão, em penitência pelas crueldades que cometia.

• Ibrahim I, o Louco (1616-1648)
Era aficcionado sexualmente por vacas. Mandou seccionar a vagina de uma vaca, e enviou emissários pelo Império Otomano, com a missão de encontrar mulheres cujas vaginas se parecessem com a de uma vaca. Com o intuito de renovar o harém, Sechir disse ao imperador que uma de suas 280 mulheres o havia traído. Como não disse o nome, Ibrahim mandou atirar todas ao mar, dentro de sacos cheios de pedras.

Alguns loucos da ficção:

• Dom Quixote (obra homônima de Miguel de Servantes).
• Policarpo Quaresma (personagem de “O triste fim de Policarpo Quaresma”, de autoria de Lima Barreto).
• Hamlet (personagem da obra homônima de William Shakespeare).
• Quincas Borba (personagem homônimo da obra Quincas Borba de Machado de Assis).
• Serginho (da peça Toda Nudez será castigada, de Nelson Rodrigues).
• Nonô (da peça Álbum de família, de Nelson Rodrigues).
• Werther (da obra Os sofrimentos do jovem Werther, de Álvares de Azevedo).

Loucura nas Artes:

• Van Gogh (foi um pintor pós-impressionista neerlandês, freqüentemente considerado um dos maiores de todos os tempos.
Sua vida foi marcada por fracassos. Ele falhou em todos os aspectos importantes para o seu mundo, em sua época. Foi incapaz de constituir família, custear a própria subsistência ou até mesmomanter contactos sociais. Aos 37 anos, sucumbiu a uma doença mental, suicidando-se).

• Wolfgang Amadeus MOZART (mostrou uma habilidade musical prodigiosa desde sua infância em Salzburgo. Já competente nos instrumentos de teclado e no violino, começou a compor aos cinco anos de idade, e passou a se apresentar para a realeza da Europa; aos dezessete anos foi contratado como músico da corte em Salzburgo, porém sua inquietação o fez viajar em busca de um novo cargo, sempre compondo profusivamente.

• Qorpo-Santo (José Joaquim Leão, natural da vila do Triunfo, interior do Rio Grande do Sul, vai para Porto Alegre em 1840, já órfão de pai, para estudar gramática e conseguir emprego na capital, habilitando-se ao exercício do magistério público, que passou a exercer a partir de 1851. Em 1861, de volta a Porto Alegre, segue a carreira de professor e começa a escrever sua Ensiqlopédia ou seis mezes de huma enfermidade. Parecem manifestar-se, neste momento, os primeiros sinais de seus transtornos psíquicos, rotulados então sob o diagnóstico de “monomania”, sendo afastado do ensino e interditado judicialmente a pedido da própria família.
REFERÊNCIAS

FOUCAULT, Michel. A História da Loucura na Idade Clássica. 1997. SãoPaulo, Perspectiva.

FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber. 1986. Rio de Janeiro, Forense
Universitária.

AUERBACH, Erich. “Germinie Lacerteux” IN: Mimesis: A representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1971.
LEAL, A. & GHIRALDELLI, P. Pragmatismo e questões contemporâneas. Rio de Janeiro: Arquimedes, 2008

Um comentário:

Pc Merces disse...

Heheheheheheehe.

Cada louco com a sua loucura.

Gostaria de vê um post sobre a obra de Billy Wilder, que atingiu o ápice em sua obra "Sunset Boulevard".

Gosto de filme em que os diretores fazem uma análise psicológica porfunda dos personagens. Outro exemplo é "Morte em Veneza" de Roman Polanski.

O blog é bom para quem é cinéfilo como eu!!!